1 de abr. de 2019

1969, o ano que (aqui, ainda) não terminou



Dizem que recordar é viver. Então, vivamos. Falei aqui das coisas de 1969, o ano em que descobri Goiás, mas não fui a detalhes, particularidades. Vivi e vi coisas muito boas por aqui, terra maravilhosa e povo hospitaleiro. Como dizem os nativos, no Goiás tudo é bom demais! E é.

Morei na pensão do Domineu, na Paranaíba, em frente à igreja Coração de Maria. Depois, me mudei para a rua 7, pensão da Dona Fádua, minha mãe por adoção. Saudade da feijoada dela. Querida Dona Fádua, mãe do Zé e da Marilene. Deus a levou.

Naquela época, ainda não existiam comerciais gravados para a TV. No rádio, sem problema, jingles e spots. Na televisão, os comerciais eram feitos ao vivo. O Novo Mundo, por exemplo, para fazer a propaganda de suas lojas, mandava lá para os estúdios os produtos a serem anunciados - camas, colchões, sofás, fogões, geladeiras etc. Praticamente, tudo o que uma casa precisa.  

Na hora do comercial, câmeras ao vivo e as "garotas propaganda" entravam em cena com o texto na ponta da língua. Dificilmente erravam. Tinham simpatia e empatia. Sabiam dar o recado. Marília, Hilda, Vanilda, Ivone, Cristiane, Terezinha... E eram pessoas maravilhosas. Uma delas, não citada ali, eu a levei para a TV Brasil Central, em 1977. 


Ângela Rímoli,: o sorriso é o mesmo.
Só os cabelos mudaram
A TBC havia contratado, para cuidar da programação e produção locais, o Íris Carlos Freitas, professor da UFG, Aquiles Tenuta, que já havia feito a Gincana Estudantil na TV Goiânia, e o carioca Cid Macrini, egresso da TV Rio e com passagens pela Excelsior e Tupi. Os três estavam empenhados na definição de programas e precisavam de apresentadora para um deles - Carrossel. Sugeri Ângela Rímoli, a quem conheci, quando ela fazia os comerciais ao vivo na televisão. Veio, viu e venceu.

A cidade era calma. Tinha uns três cinemas. Eu frequentava o Casablanca, na Rua 8, que passava filmes de verdade. Foi ali que vi a beleza desnuda de Jane Fonda, na antológica abertura do filme Barbarella, onde, num ambiente sem gravidade, ela faz sensual striptease. Quer assistir? Clique aí em cima do nome dela.

JANE FONDA

Foi um auê. Estávamos em 1969, o Brasil, historicamente, ultraconservador, principalmente fora do eixo Rio-São Paulo. Lá perto de casa, na igreja vizinha, o padre e as beatas acenderam todas as velas. Vade retro. Ah se soubessem o que anda acontecendo hoje... Golden shower... Parada Gay...  Teriam um enfarte. 

Mudando de campo. Naquele ano, o futebol tinha o Vila embalado. A sede era na Rua 8, em cima do Zé Latinhas, onde também funcionava a Rádio Independência, Edgard Mendes de Brito, o Gazinho, era o presidente. Eu gostava de papear com o Onésio Brasileiro Alvarenga, apaixonado pelo Tigrão. Cigarrinho de palha, sempre sorridente, vivia para a família e o seu Vila do coração. 

Era, à época, o melhor time. O Goiás, treinado por Tomazinho (irmão do Paulo Gonçalves), estava começando a se arrumar. Hailê Pinheiro cuidou disso. Seria um bom governante: planeja para o futuro. Ficou de olho no campeonato. O Goiás terminou em terceiro,  com 23 pontos - dois a menos do que o CRAC e a 3 pontos do Vila campeão. 

O Atlético havia investido pouco, mas trouxe dois craques de primeira: Dadi, meio campista, e Paghetti, ponta-de-lança. E, depois, trouxe Raimundinho. Zuíno, o grande ribeiropretano, depois do sucesso no Botafogo, ajudou o Dragão a crescer. Mas o time não foi bem. Terminou em sexto, com 19 pontos e só ficou à frente do Goiânia pelo saldo de gols. 

O Goiânia, campeão de 68, presidido por Sérgio Dias Guimarães, foi cuidar do patrimônio: construiu a Vila Olímpica, que passou a ser o orgulho dos alvinegros. Mas o time foi mal. Dos da capital, foi o pior, terminou em sétimo, com 19 pontos, atrás do Atlético pelo saldo de gols.  

O Vila campeão tinha um timaço, onde Guilherme era o homem-gol, mas era fantástico o futebol da dupla Zé Geraldo e Mosca e, show à parte, os dribles desconcertantes e o chute fortíssimo do ponta Serginho - ele era do Catanduva e que chegou a Goiânia, à minha procura, com a chuteira debaixo do braço. Pedi ao amigo João Carneiro que lhe desse uma chance. "Arrebentou". 

Silenciosamente, Hailê, tempos depois, tirou do bolso o caderninho e levou para a Serrinha: Tuíra, o maestro do Goiânia; Serginho, o desconcertante ponta do Vila; e Paghetti e Raimundinho, duas das garras importantes do Dragão. Grande dirigente. Merece todas as homenagens e mais do que nome de estádio. O Goiás e Goiás devem muito a ele. 

Ainda há muito a se contar daquele distante 1969. Coisas da Rádio Anhanguera, por exemplo. Miguel Mendes era o diretor. Nos tornamos amigos eu estava sempre por lá. Turma boa que só. Jackson Abrão era a voz do noticioso "O Bandeirante no Ar". Jurandir Santos, baita narrador esportivo da equipe ABC, do Baltazar, também falava de (boa) música no seu "Chá das 5". Na TV do seu Jaime, os jovens Arthur Rezende e Wladmir Araújo apresentavam "A Juventude Comanda". Sucesso. Falaremos disso logo logo.

P.S. - Pena o Estádio Serra Dourada estar na UTI e não termos como sediar, aqui, uma das chaves da Copa América. Seria bom para os hotéis, restaurantes, comércio, aquecendo a nossa economia. Infelizmente... 

SOS - Orquestras jovens de Goiás pedem socorro!

Aqui o início da Orquestra Jovem de Itumbiara.
Ao fundo, o maestro Emanuel Ferreira e Professores

A segunda deveria começar com coisas boas, mas as tais andam escassas por esta terra brasilis. Aqui na pátria pequi, pasmem, estão desativando a Rede de Orquestras Jovens de Goiás. Isso não pode acontecer, mas, infelizmente, se comete este  inaceitável contrassenso. Lamentável.
Tendo a cidade de Itumbiara como núcleo pioneiro, este fantástico projeto começou a ser implantado em agosto de 2017, tornando-se referência para outros onze, sediados em Anápolis, Aparecida de Goiânia, Bela Vista, Caldas Novas, Catalão, Goiânia/Noroeste, Guapó, Jaraguá, Pirenópolis, Palmeiras de Goiás e Trindade.

Para quem não o conhece e pergunta o que é: este maravilhoso projeto da Rede, de forma gratuita, cuida da qualificação e capacitação  de crianças e jovens, com idade entre 8 e 18 anos, no campo da música. Aprendem a tocar os instrumentos musicais, cedidos pelo Governo do Estado, que também paga os regentes e professores, responsáveis pelo resultado final.  

Conversei com alguns prefeitos, todos empenhados em atender, dentro do que podem, as demandas de suas unidades, cedendo espaço físico, pessoal e material de limpeza, pagando contas de água e energia. Todos estão preocupados e vão apelar ao Governo para que mantenha as células vivas.

Não ser vê por aí nada similar a esta criação do maestro Eliseu Ferreira, que, utilizando a rede do ITEGO - escolas estaduais de educação profissional - promove o ensino profissionalizante de cada instrumento que compõe uma orquestra, formando músicos da puberdade à adolescência, além, também, da prática de Canto Coral. É a música adotando os meninos, ao invés das drogas ou da marginalidade.

Para que possam medir o tamanho e o alcance desta ópera fantástica, atualmente, trabalham na Rede cerca de 120 professores, ensinando música, na teoria e na prática, a 1 mil e 100 alunos, dos quais se exige apenas a faixa etária estabelecida (8 a 18 anos) e o comprovante de matrícula no ensino regular.

Infelizmente, este projeto está sendo desmontado gradativamente. Houve choro e tristeza quando, há dois meses, foram desativadas as orquestras de Bela Vista e Itumbiara. Indignação. E esta se fez maior, ainda, pois as de Jaraguá e Pirenópolis seguiram o mesmo caminho.

Inconformado, fui buscar respostas e explicações. Afinal, não se fecha escolas. Pelo contrário, quanto mais as tivermos, melhor. De acordo com as organizações sociais que administram os núcleos orquestrais, faltam recursos para a continuidade dos projetos e, assim, a desativação  da Rede de Orquestras Jovens de Goiás será inevitável. 

Será, sim, inaceitável. Fica, de público, um apelo ao governador, para que impeça esse desastre. Todos sabemos das dificuldades financeiras herdadas do antecessor, mas o Estado pode e deve buscar soluções - e por que não uma parceria público-privada? Faça-o por favor, em nome da arte, mas, acima de tudo, em nome das crianças e adolescentes. 

A orquestra do governo, in casu, não pode desafinar. Que sejam salvas as orquestras, antes que se fechem as cortinas e termine de vez o espetáculo. 


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Segue vídeo  que gostaríamos que todos os assistissem. Orquestras Jovens de Goiás, mais que ensinar, é construir. 

Aqui, os alunos do professor Júlio Luz, no COTEC de Caldas Novas. executam Ode à Alegria - a Sinfonia Número 9, de Beethoven. CLIQUEM NO LINK.

Orquestra Jovens Caldas Novas

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P.S. - Lobato dizia que "um país se faz com homens e livros". A alma se faz com amor e música.