16 de mai. de 2019

Capitão, um país se faz com homens e livros

Capitão infeliz, quando fala.
Não poucos manifestantes são seus eleitores.
Defender a educação é dever de todos.
E dele, principalmente. 
O capitão vai mal. Cortar recursos indispensáveis e fechar cursos de filosofia e sociologia em nada contribuirão para combater o que ele chama de "esquerdização" das universidades federais. Não é por aí. O mundo mudou, a partir de Sócrates e Platão. Foi com as letras e pensamentos livres que saímos da Idade das Trevas - a brutal ditadura imposta pela Igreja, com a sua Inquisição, fogueira e autos de fé (eis aí o perigo da soma religião e política) - e ingressamos num mundo novo. Era o renascimento.

O livre pensar permite a todos - progressistas, reacionários, conservadores etc. - a verbalização de satisfações e insatisfações. Na democracia, o "penso, logo existo", de Descartes, é o "penso e falo", com o direito de opinar, discordar. Aqui na terra brasilis, impedir esse direito inalienável, determinado pela nossa Constituição, é atentar contra as liberdades democráticas.

É verdade que, infelizmente e o capitão tem razão, existem, nas nossas universidades, alguns espiroquetas que se servem da cátedra para cultuar doutrinas. São imbecis ilustrados a aproveitar-se das cabeças abertas de adolescentes para cultivar tendências, ao invés de estimulá-los ao conhecimento de todas visões do mundo e, depois, que cada qual faça escolhas por livre arbítrio, jamais por indevida e irresponsável indução. Mas não por isso se fecha cursos e nem se corta verbas de universidades. Que se bote para fora os que manipulam conhecimentos. 

É preciso lembrar ao capitão que, por falta da filosofia nas escolas que frequentou, é que ele não consegue verbalizar pensamentos. Filosofia exige leitura, nos enriquece de informações, viabiliza a fluência de ideias e a construção de farto vocabulário. Aprendi com a minha mãe, que muito me exigiu nos livros, que, quem não lê, não escreve e não fala.

A formação militar do capitão lhe tomou essa preciosidade. Foi escolado no "sim, senhor", sem o direito de discordar de ordens, de opinar sobre nada. Ocorre que o Brasil não é um quartel. É um país onde todos têm o direito de pensamento e de escolha, tanto que a maioria, usando o inalienável livre pensar e o livre escolher, o elegeu presidente. 


Esse mesmo livre pensar que experimentou a esquerda (que se revelou cleptomaníaca) e decidiu bani-la. 

Esquerda que, aliás, provocou o terrível e criminoso "apagão" nas mesmas universidades, com o corte de R$9 bilhões e meio de recursos, gerando greves e protestos e fazendo desabar o mentiroso slogan "dilmático" de "Pátria educadora".

Esquerda que, por oportunismo e sem público, quis pegar carona nos protestos de ontem, mas sem moral e legitimidade alguma, em prejuízo à seriedade dos eventos.


Enxotada a esquerda, a direita não pode repetir o erro. Um governo que fecha escolas, que as esvazia de recursos, só pode contribuir para a imbecilização do seu povo. Repito: o Brasil não é um quartel e as suas escolas devem formar cidadãos e não tropas de paus-mandados.

Caro capitão, já o dizia Lobato, "um país se faz com homens e livros".

P.S. - Fechar cursos de filosofia, se deixando guiar por um astrólogo que se autoproclama filósofo (aquele que "ama o Brasil", mas mora nos Estados Unidos), só pode trazer prejuízos à imagem e à já pobre história do nosso capitão presidente.