18 de mar. de 2019

Davi prende o rabo e Dodge vira Fordinho 29



Segunda-feira 18, São Paulo. Embora tenha dito que não criaria obstáculos para impedir a CPI do Lava Toga, Davi Alcolumbre, presidente do Senado, perguntado, na FIESP, sobre o que fará com o novo requerimento a ser protocolado nesta terça, disse: "O nosso país precisa de estabilidade. As instituições têm de funcionar e o Brasil não pode, nesse momento delicado de sua história, ter clima de conflito entre as instituições. Uma guerra institucional não vai fazer bem ao Brasil, neste momento".

Davi fazendo média. É alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal, que apuram irregularidades na campanha dele, em 2014. As ações tramitam de forma conjunta e estão sob a relatoria da ministra Rosa Weber. Um dos casos corre em segredo de Justiça.

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Do pastor Silas Malafaia, ipsis verbis/ipsis litteris: "Eduardo Bolsonaro ajudaria muito mais o governo do pai parando de falar asneira. Poderia ter ficado de boca fechada na questão dos imigrantes ilegais brasileiros. Não conhece a realidade da questão. A maioria, quase que absoluta, vai para trabalhar".
E arrematou: "Não tenho vergonha dos brasileiros ilegais que estão em diversas nações poderosas. Pelo contrário, são trabalhadores que foram tentar a vida, fugindo do desemprego".
Pelo andar da carruagem, as alas bolsonaristas estão em conflito. Evangélicos, militares e olavetes trocam petardos entre si. Batem do pescoço para cima.

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Depois da canetada que exonerou 21 mil comissionados e extinguiu os cargos que ocupavam, o presidente Bolsonaro fez publicar no Diário Oficial desta segunda, 18, decreto estabelecendo que, a partir de agora, só quem é ficha limpa poderá ser nomeado para cargos comissionados. A medida também torna inelegíveis servidores enquadrados na mesma lei. Resumindo: detonou a farra de cargos do PT e avisou que só limpo joga no time.

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Também nesta segunda, 18, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o Diretor Geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, estiveram tentando negociar, nos Estados Unidos, o acesso aos dados do Facebook e Whatsapp, sem a necessidade de um pedido judicial. Não creio que consigam. O sigilo faz parte da confiança entre os usuários e as duas ferramentas. Ambos (e também o pessoal do CNJ) deveriam ler melhor a Constituição. Ela prevê a inviolabilidade de correspondência e isso se aplica às parafernálias da modernidade. Assim, os meios eletrônicos, realizados em redes sociais e e-mails, têm sigilo amparado pela Lei Maior. Aqui e lá, onde o rigor é total.

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De Dodge a Fordinho 29. É farpa à Procuradora Geral da República, depois de sua queda de braços com a força-tarefa da Lava Jato. Pensando em ser reconduzida ao cargo, Raquel Dodge caiu em desgraça junto aos colegas de instituição e sabe que, dificilmente, obterá os votos necessários para compor a lista tríplice a ser enviada ao presidente Bolsonaro. Os rumores lá na PGR sinalizam que ela alimenta a esperança de ser indicada pelo presidente, à revelia da lista. A eleição será daqui a seis meses.

P. S. - A Associação Juízes para a Democracia expediu nota em defesa do STF e repudiando os ataques ocorridos neste domingo, 17, contra a instância maior do Poder Judiciário, em Brasília. Dezenas de faixas foram colocadas, em protesto contra aquela instituição. A mais violenta delas: "STF, puteiro do PT".

A Casa Branca e a casa de Mãe Joana

O presidente Jair Bolsonaro falando a "formadores de opinião", em Washington
Foto: Alan Santos (PR)


O Brasil espera e precisa que o presidente Bolsonaro acerte, devolva o país ao desenvolvimento e esperança ao nosso povo. Há um país em oração para que isso aconteça.

Mas há um conjunto de atitudes que resultam num grande ponto de interrogação. Começa pelo vazio no comando. Há muita gente, sem legitimidade, falando pelo presidente. Esta viagem aos Estados Unidos só faz aumentar a dúvida sobre quem é que de fato manda aqui.

Na chegada, o jantar na casa do embaixador brasileiro Sérgio Amaral mais pareceu bandeja de loas ao escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, do que talheres de boas vindas ao nosso presidente. Presentes à farta mesa estavam formadores de opinião e ativistas da extrema direita estadunidense, capitaneados por Steve Bannon, o mago estrategista de Trump.

Pelo que lemos, vimos e ouvimos, o périplo da nossa comitiva, mais que do que estreitamento de relações, cuidará da materialização da nossa subserviência aos anfitriões. No ágape de domingo, alguns pontos foram discutidos. Um deles, a nossa relação com a China, maior importadora dos alimentos que produzimos. Trump não quer os amarelos por lá e, no jantar, o alerta foi dado: qualquer concessão aos chineses merecerá restrições de Tio Sam.

Segundo Olavo, bisando o presidente eleito, "a China pode comprar ao Brasil, mas não comprar o Brasil ". É o velho discurso do macarthismo ianque e do lacerdismo tupiniquim: nada de negócios com países comunistas. Coisa de mentalidades jurássicas. Comercialmente, a China surfa nas ondas do capitalismo. Vamos dizer não a um bom freguês, porque o Trump 1 manda e o Trump 2 obedece.

Nesta terça, 19, ambos os presidentes estarão reunidos para firmar o "Pacto Donald". Dentre os pontos principais, o uso de tecnologia americana para o lançamento de satélites, por nós e por eles, na nossa base em Alcântara. Outro, polêmico e questionável, é o da não exigência de vistos para que cidadãos estadunidenses entrem no Brasil quando quiserem, sem que tenhamos direito à reciprocidade, ou seja, não podemos entrar no país deles pela mesma norma. Ao oficializar o nihil obstat, nos fazemos (mais uma vez) quintal da Casa Branca. Pior: viramos casa de Mãe Joana. Infelizmente.

P. S. - O Brasil torce e espera que o presidente acerte, mas que também governe, decida e aja como presidente de todos os brasileiros e não só dos que nele votaram.