8 de out. de 2013

Barbarella, futebol e memórias. Ripa na xulipa!

Jane Fonda, em Barbarella

Rádio esportivo goiano. Saudade dos bons e velhos tempos. Idos de 1969.  Jane Fonda era a musa do cinema. Acabava de estrelar Barbarella. O filme começa com ela, flutuando em ambiente de gravidade zero, se despindo do traje de astronauta, restando quase desnuda. (VEJA AQUI)

O Campeonato Goiano começava quente. Introduzi o termo “Goianão”, mania nossa de São Paulo  de colocar as coisas no superlativo. Criei, também, Verdão/ Verdinho, Tigrão/Tigrinho and others. No noticiário dos clubes, adotei o uso dos hinos de cada um. O Goiás não tinha o dele – só mais tarde, no início da era do Serra Dourada, é que o presidente Iberê Monteiro o encomendou a Marcos e Paulo Sérgio Valle, compositores de primeiro time nacional – são os autores da maravilhosa “Viola Enluarada”.

Salve a Sant`Anna das Antas


Anápolis: desfile dos novos modelos Chevrolet  ano 70

A cidade de Anápolis veio com tudo – eram os tempos de Paulo Choco, do Ipiranga, e de Nelson Parrilla, do Galo (Anápolis). Parrilla que foi o artilheiro do campeonato em 65 e 66 – e lembremos que o Anápolis foi o campeão goiano de 1965. Completando a força da Manchester na disputa, eis a rubra Anapolina, também  chamada de “Xata” com “X”, mas nada a ver com a embarcação homônima.

Soube, pelo autor da denominação, que a tal nasceu da marca de tampa de vaso sanitário. A Anapolina ia jogar em Ceres. Numa das paradas, usando o banheiro, Jamil Caixe, que era diretor do time, gravou a curiosa marca do assento do vaso: Xacta. E saiu de lá dizendo que a Rubra ia ser “Xacta”, aprontando contra o Ceres, lá no Vale do São Patrício.

Se materializou o vaticínio, não sei. Mas Xacta logo virou “Xata”, porque os jornais começaram a escrever ”Chata” com “ch”, desvirtuando o cognome, e Jamil mandou corrigir: “O nosso `Xata `é com x``”. Alegaram que estava errado, que “Xata” era embarcação fluvial etc.. O beduíno, meu amigo, simplesmente respondeu: “É Xata com x`. Até nisso ela é chata”.

Recuerdos de la Cataluña


Catalão/GO

Mas a sensação da época era o CRAC, de Catalão. Pedrinho Goulart, diretor de futebol. Nelson Gama, o goleiro. Tinha tal de Toninho Índio (que foi o artilheiro daquele ano, com 14 gols) e um centroavante chamado Cláudio, que só não faziam chover.

Jogar na Catalunha goiana era o mesmo que pegar touro a unha, como diz a marchinha de Carnaval. Primeiro, porque o estádio era (e ainda é) uma arapuca. A galera em cima do campo e em permanente ebulição. Aplausos para o CRAC, vaias para o adversário, elogios à mãe do juiz e à mãe do comentarista que disse estar certa a marcação da arbitragem. Na época, a cidade ainda tinha fama de Trezoitão.

Chatanooga Choo Choo

Lembro-me da primeira vez que lá estive, em 69, para transmitir Vila Nova e CRAC. O Draulas  Vaz, chefe da Equipe 1.320 (hoje, 730) iria de carro no domingo, pela manhã, juntamente com o Jadir Santos, ótimo narrador, irmão do Jurandir. 
 
A estação de Catalão

Fui no sábado, de trem. Eu e o saudoso Nunes Macedo, da Rádio Brasil Central. Vivi em trens, em São Paulo, quando os havia. Lá, a bitola era larga, o trem balançava menos. O daqui, bitola estreita. No vagão restaurante, as mesas tinham  locais para que copos e garrafas fossem colocados, sem que derramassem ao sacolejar.

Para comer, era uma ginástica só. Passamos a noite jogando baralho. Ninguém conseguia dormir. Não havia vagão-dormitório, só o de poltronas-leito. Sei que saímos de Goiânia por volta de nove da noite e chegamos a Catalão já na aurora dominical.


Trem de ferro. Os carcamanos que administraram este país acabaram com ele. No Brasil inteiro. Catalão tem, ainda, o patrimônio histórico dos velhos tempos: a sua estação. E também as têm as demais cidades à margem da ferrovia.

Trens de carga passam por ali. Já não mais existem gentes nas janelas dos vagões, parecendo um desfilar de retratos  de pessoas, numa composição em que a vida imita a arte. Já não há sorrisos em chegadas e nem lágrimas em despedidas. E nem beijos fugazes. Os descalabros dos governos “mataram” as pessoas nos trens. Mataram as nossas ferrovias. Alguém foi preso?

Tempinho bom



Voltemos ao pé-na-bola. CRAC  e Vila, Estádio Genervino da Fonseca. Estávamos no dia 8 de março de 1969, um domingo. Placar final: 1 a 1. A coisa era por pontos corridos.

Voltaram a jogar e a repetir o placar no dia 3 de agosto, no Estádio Olímpico. decidindo o campeonato. 1 a 1. Vila Campeão. Somou 26 pontos, contra 25 do Leão do Sudeste. A Anapolina ficou na lanterna.

Ano de 1969, 10 clubes disputavam o Goianão. E eu me fiz torcedor do Goiânia, que tinha Chico, Silvinho e Tuíra e foi o campeão de 1968. Nei Fernandes, depois comentarista com quem tive a satisfação de trabalhar, era o seu treinador. 
Que saudade daquele tempo, quando Goiânia tinha 300 mil habitantes e ótima qualidade de vida. Quando era grande cidade e não esta cidade grande habitada mais por carros do que por pessoas.

P. S. - Assassinatos das ferrovias. Governantes que fazem isto só podem merecer cadeia, prisão perpétua.