28 de mar. de 2019

Os soldados mecânicos e os exércitos da intolerância


A meteorologia política prevê instabilidade, com fortes pancadas para todos os lados. Tempo nublado, céu encoberto. Nuvens negras e risco de tempestades. Ventos fortes de insensatez em todos os quadrantes. Temperatura em elevação. A mínima de hoje: deputado estadual paulista quer que universidades façam exame toxicológico em candidatos, barrando dependentes e ex-dependentes de drogas. A máxima: Ciro Gomes chama Bolsonaro de "imbecil" e "semianalfabeto".

O tempo instável preocupa, mas comecemos pela temperatura. Na mínima, o máximo é a flatulência mental do deputado, tal Gil Diniz (PSL-SP). Não sabe (ou finge que não) que dependência química é doença, mas insiste em querer barrar o ingresso de dependentes e de ex-dependentes nas universidades públicas de São Paulo. Haja parvoíce. O cidadão, vítima das drogas, está saindo do fundo do poço, quer ser alguém na vida e se vê impedido de ingressar numa faculdade, porque um tapirus terrestris (anta, no popular) quer lei para impedi-lo! Que me perdoem as antas, pela analogia.

Na máxima, Ciro Gomes, acometido por sabe-se lá o que, tamanhas e tantas as suas estultices, parte para o ataque ao presidente, trazendo o debate sobre o país e os paisanos ao rés do chão. Com a sua cultura de notas de rodapé de livros de Economia, com certeza não gostaria de que o tratassem como o Rolando Lero do Cariri. Comporta-se como o próprio.

As estupidezes não são exclusividade de ambos. As patrulhas ideológicas de esquerda e de direita nada ficam a lhes dever. Tais confrarias se servem de robôs programados, transpirando rejeição a todos os que não comungam as suas ideias, para o massacre aos antípodas. O episódio de quarta-feira, tendo a dublê de repórter e modelo, Ana Hickmann, como personagem principal, é exemplo recente dessa cultura de intolerância que prolifera Brasil afora.

Ana se viu diante de Bolsonaro. Ela e o marido. Foto no Instagram. Legenda: "Hoje eu tive a honra de conhecer o meu presidente". Sentimento de uma cidadã em um Estado democrático de direito. 

A patrulha da esquerda (a da direita não é em nada melhor) esmerou na jactância comum aos que se acham donos da verdade e acima da razão: chamaram-na, até, de "Barbie Fascista". Ao contrário deles, ela deu o troco com classe: "Eu não tenho partido, eu tenho o Brasil".

A virulência  dos extremos incendeia as guerrilhas digitais, aprofundam a intolerância e asfixiam o contraditório, por meio de linchamentos e agressões virtuais. A esquerda agride Hickmann, a direita vê em cada não bolsonarista um comunista indesejável etc.. Nem querem saber - e têm raiva de quem sabe - que a democracia é permeada pela pluralidade de ideias e pela liberdade de expressão, pensamento e crença; que é do conjunto de pensamentos diferentes que se busca alcançar a maioria em torno da construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária.

Haters (do inglês, "os que odeiam" ou "promovem o ódio"), à direita e à esquerda, são máquinas de destruição, linchadores virtuais dos que pensam e agem diferentes. Insanos. A unanimidade é utopia. E burra. Pensamento único é ditadura e o politicamente correto é coisa de anímicos, pois onde há alma, há sentimentos e eles nunca são iguais. Os que querem o respeito por seus amores aos Lulas, que também se dêem ao respeito aos que se aprazem com os Bolsonaros, com outros nomes, outros amores, outras paixões.

Querem patrulhar alguém? Simples. Olhem-se no espelho. E façam-se melhores.

P.S. - O Ibama exonerou José Olímpio Augusto Morelli, que, em 2012, multou o hoje presidente Jair Bolsonaro em 10 mil, por pescar em área protegida. Após o flagra, o então deputado infrator discursou contra a ação de Morelli e até apresentou projeto para desarmar os fiscais do órgão ambiental. A bronca mesmo não foi por conta do valor, mas da foto tirada por Morelli, prova da invasão e, depois, viralizada nas redes sociais.


Bolsonaro pescava na Estação Ecológica Tamoios, em
Angra, área onde a presença humana é proibida