22 de jun. de 2015

As lições prestáveis do imprestável Polônio

O teatro estudantil despertou em mim, precocemente,  avidez pela leitura dos textos de Shakespeare.  Eu já o lia e relia aos 12 anos. A primeira vez por conta de sugestão feita pela minha mãe, tendo em mãos Hamlet,  marcador de página no primeiro ato, cena três. Polônio, camareiro do Rei Cláudio da Dinamarca, ao se despedir do filho Laertes,  que está de volta a Paris,  o aconselha sobre  os cuidados a ter no campo das relações humanas.

Polônio não é nenhum poço de virtudes, mas transborda sabedoria nas recomendações que faz. Coisa de Shakespeare e a sua mania de dar certo brilho aos canalhas.

Sirvam-se das palavras de Polônio, tão úteis a mim e, com certeza, aos que a delas fizerem uso. 

- Não dá voz ao que pensares, nem transforma em ação um pensamento tolo.
- Sejas amistoso, sim, jamais vulgar.
- Os amigos que tenhas, já postos à prova, prende-os na tua alma com grampos de aço, mas não caleja a mão festejando qualquer galinho implume mal saído do ovo. 

- Procura não entrar em nenhuma briga, mas, entrando, encurrala o medo no inimigo.
- Presta ouvido a muitos, tua voz a poucos.
- Acolhe a opinião de todos – mas você decide.
- Usa roupas tão caras quanto tua bolsa permitir, mas nada de extravagâncias – ricas, mas não pomposas.
- O hábito revela o homem, e, na França, as pessoas de poder ou posição se mostram distintas e generosas pelas roupas que vestem.
- Não empreste nem peça emprestado. Quem empresta perde o amigo e o dinheiro.
- Quem pede emprestado já perdeu o controle de sua economia.
- Sê fiel a ti mesmo e jamais serás falso pra ninguém 


Interessante. Minha mãe doou todos os milhares de livros de sua biblioteca, mas guardou duas coleções para si: as obras completas de Shakespeare e de Machado de Assis. Sábia mulher.