30 de mar. de 2019

Que Bolshalom também seja Bolsalam


Bolsonaro viaja para Israel
O presidente Jair Bolsonaro, quando embarcava,
neste sábado, para Israel (Foto: Alan Santos/PR)
O presidente Bolsonaro tem o Brasil para "consertar". Deveria começar a fazê-lo, ao invés de bater asas e pousar em apoios indevidos a interesses alienígenas. Tivesse aprofundado o seu conhecimento histórico, não seguiria a imposição de vontades do seu ídolo Trump e jamais apoiaria a estúpida intenção de se fazer de Jerusalém a capital de Israel. Berço de três religiões - judaísmo, cristianismo e islamismo -,  a velha cidade é patrimônio do mundo - é uma cidade de todos. Que a capital israelense continue sendo Tel-Aviv.

É preciso que tenhamos uma política internacional pautada na legislação e acordos vigentes, com submissão às resoluções da Organização das Nações Unidas. O presidente, ao seguir Trump neste apoio, apenas reforça o matiz servil a ele imputado, em sua primeira estada na Casa Branca. 

É preciso colocar os interesses do Brasil acima de tudo - aliás, este é o lema dele, na campanha e, agora, no governo. Que cumpra, pois, o slogan e pondere o que é bom para o seu país, para o seu povo. Passar caol no menorá judeu pode nos custar a perda de bilhões de dólares árabes. O Oriente Médio é um dos maiores importadores de produtos brasileiros. 

Os números, em 10 de fevereiro deste 2019, atestam isso. Exportamos para eles produtos vários, num total de US$ 1 bilhão 749 milhões, e importamos US$ 811 milhões, com um saldo positivo de US$ 938 milhões na nossa balança comercial. Com Israel é o contrário: exportamos US$ 57 milhões e importamos três vezes mais: US$ 184 milhões - um déficit de US$ 127 milhões. Perder o mercado árabe será construir o nosso próprio muro de lamentações. 

O Sr. Bolsonaro precisa deixar de ouvir o seu (a)trapalhão ministro de Relações Exteriores. Inábil, politicamente, e, ababelado, revelando-se ignoto em política econômica internacional, o Sr. Ernesto Araújo já causou apreensão por seu discurso contra a China, apregoando que ela pode comprar, sim, os nossos produtos, mas não a nossa alma.

Alma eles não a querem, todos sabemos - mas Araújo não titubeia, quando prega que devemos dá-la de presente a Trump. A verdade é que, paralelamente à sua cultura xenófoba, há uma ruidosa sinofobia instalada no nosso chanceler. Rejeita a China por ser ela um Estado comunista.

Curiosamente, cabe, como lição ao nosso chefe do Itamaraty, o brocardo de um velho chinês, Deng Xiaoping, quando em defesa da abertura dos negócios do seu país para o capitalismo: "Não interessa se o gato é branco ou preto. O que importa é que ele mate o rato". 

Dinheiro não tem ideologia. Sejam dólares, rublos, ienes, remimbis, o importante é que comprem do Brasil. Podemos ser, de fato, o celeiro do mundo. Basta que tenhamos política econômica interna forte, com apoio ao setor produtivo, a desoneração dos custos etc., para que, com preços competitivos, conquistemos o mundo. 

Que o presidente Bolsonaro não judaíze as suas ações, ainda que seja seu desejo pessoal. O Brasil está acima das suas vontades. Em Jerusalém, vá sozinho ao Muro das Lamentações. Esqueça o Araújo e deixe Benjamim Netanyahu em casa. Ir com ele é, praticamente, romper com os árabes, o que vai ser bom para Israel, mas muito, muito mesmo, ruim para nós. O que queremos são bons negócios e muita paz (shalom) com os israelitas e muita paz (salam) com os ismaelitas. Isso é o que importa e que assim seja.
      
P.S. - Araújo, ao afirmar ser o nazismo de esquerda, expõe o seu despreparo para comandar o Itamaraty. O nacional-socialismo (nazismo) sempre foi um movimento de extrema direita. Rejeita a democracia, a igualdade das pessoas e, totalitário, promove a segregação racial e étnica etc. Na verdade, regimes totalitários são cânceres, sejam de direita ou esquerda. É preferível a democracia, ainda que com imperfeições. Nela, o povo tira quando quer, muda quando cansa.