29 de mar. de 2019

A balada dos revoltosos e o telefone indiscreto


Goiânia, dias primeiros de março, 1986. Eu trabalhava na Rádio Jornal de Goiás, último andar do edifício do Cine Capri. Apresentava a manhã política, a competentíssima jornalista Deja Moura, da TV Goyá, era a minha repórter. Um telefone, uma agenda telefônica e estamos no ar. 

Antenados, acompanhando o programa, os políticos sabiam que o telefone chamando, entre 7 e 8 horas, só poderia ser o Bordoni querendo saber alguma coisa. A pauta consistia em informações levantadas por mim, repercussão de destaques nos jornais do dia e, também, entrevistas agendadas previamente.

Certa tarde, na Assembleia Legislativa, a bancada do PMDB estava descontente com Iris Rezende, que havia deixado o governo para ser ministro de Sarney. Senti que a ruptura era iminente. Acusavam Íris de se achar dono do partido. A nau dos insatisfeitos era capitaneada pelo senador Mauro Borges, marginalizado pela ala irista, detentora do controle da legenda.  

Ninguém dos "revoltosos" queria falar. Bagres ensaboados. Única exceção era o deputado Maranhão Japiassu, da ala conjurada e que acabara de chegar de Brasília, onde estivera com Mauro, no Senado, para tratar de projeto de construção de ponte sobre o Rio Tocantins. 

Combinei de falarmos sobre a obra, de coisas da política e que ligaria para ele na manhã seguinte, por volta de 7h20, 7h30 da manhã. E o fiz, discagem direta no ar.

- Bom dia, deputado. Bordoni falando. Tudo bem?

- Tudo bem, Bordoni. Antes da gente falar da ponte, deixa eu te contar uma coisa, mas, por favor, ninguém mais pode ficar sabendo. Vai ser uma bomba. 

Nem pude dizer que já estávamos no ar. Ele logo emendou o explosivo segredo:

- Eu, o Moisés Abraão, o Mauro Borges, o Aparecido de Paula, o Tarzan de Castro e o Manoel Motta vamos cair fora do PMDB. Vamos todos para o PDC e lançar o Mauro Borges candidato a governador.

O segredo da conjuração deixava de existir. Foi, realmente, uma bomba. O palácio tremeu. Os alicerces do partido foram sacudidos. Os revoltosos estavam preparando um anúncio alvoroço, para solapar de vez o PMDB. 

Naquele mesmo dia, na Assembleia, durante a sessão, colegas jornalistas pegaram o telefone do balcão da imprensa e chamaram o Japiassu:

- Deputado, ligação para o senhor. É o Bordoni.

- Manda esse f... d... p... para a p... q... p...

Francisco Maranhão Japiassu, maranhense de Carolina, de saudosa memória, foi um dos bravos defensores da criação do Estado do Tocantins. Pequeno no tamanho, grande em dignidade e generosidade. Com respeito, o reverencio e à sua história.

P.S. - Os brasileiros em situação de pobreza somam 54,8 milhões. Há outros 15,3 milhões em pobreza extrema. O desemprego atinge 13,1 milhões de pessoas. A nossa economia vai mal, o dólar dispara, as reformas não acontecem, os políticos mentem e idem os juízes. Os tartufos de todos os poderes querem nos fazer de palhaços. E estão conseguindo. Faz tempo.