14 de abr. de 2019

Catanduva, rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar

Catanduva, 1968, a Cidade Feitiço.
Paz e qualidade de vida
Catanduva, 1968. Comecinho do ano. Uma manhã de sol e de gostosa brisa. Desci do ônibus na praça da Matriz de São Domingos. Andei umas três quadras para chegar ao meu destino: Rua Amazonas, 333. Painel luminoso em cima: Emissora A Voz de Catanduva.


Mais que uma emissora de rádio, uma família
Eu chegava de São José do Rio Preto, da Rádio Independência. Alexandre Macedo, o subcomandante, havia me "emprestado". Júlio Cosi, o nosso comandante geral, havia terminado de montar A Voz e a transferido para as mãos catanduvenses dos meus futuros amigos Esmar Gabriel Aun, Angelin Cazellatto e João Alberto Caparroz. Trio maravilhoso.

Entrei no saguão da rádio. Fui recebido com largo sorriso por Sandra Mara Medrano, a querida Sandrinha, hoje Senhora Pedro Gonzalez, ele grande amigo que foi conquistar a pauliceia, primeiro, no departamento comercial do SBT e, depois, no da Rede Record, onde trabalhamos juntos num passado mais recente.

Sandrinha logo anunciou a minha presença ao diretor geral da rádio, Nelson Antônio Gonçalves, o NAG. "Até que enfim apareceu. Estou à sua espera faz uns três meses" - disse-me, logo substituindo a carranca por um largo sorriso. 

Apresentou-me ao seu diretor de programação, que viria a ser meu pai, irmão e amigo de todas as horas, Carlos Alberto Magalhães, uma das vozes mais lindas que já ouvi, e ao meu anfitrião, José Antônio Rosinha, o Zezo, que cuidou de arrumar a minha hospedagem, de me mostrar a cidade e a apresentar os meus companheiros de casa.

Álvaro Costa era o diretor comercial. Nelzo Bizarri, grande amigo, cuidava dos Recursos Humanos. Havia duas Lurdinhas: a discotecária, Lurdinha Bocchini, um doce de pessoa e que o casamento levou para Paulínia (alô, Sérgio, abraço), e a da programação comercial, que se casou com o Zezo (Maria de Lurdes Rosinha) e foi para a locução - voz feminina de encantar os ouvidos. São maravilhosos os seus áudios dos Evangelhos.

A nossa programação era bem popular. Santo Colin e Nhô Renato comandavam os programas sertanejos. Às 7, o Bom dia, trabalhador, com Álvaro Costa, seguido pelo programa do astrólogo Omar Cardoso (Bom dia, mas bom dia mesmo). Magalhães fazia a parada musical "13 às 13". Zezo era campeão de correspondência com o "Sua carta vale música".

Às 15, José Alfredo Luiz Jorge (que foi prefeito da cidade por duas vezes), tinha a sua "Festa de Arromba", para o público jovem, feito do saguão da rádio, sempre cheio de adolescentes. Além dos meus programas "Bom de brasa" (pela manhã) e "Juventude e Ternura" (da meia noite às duas da matina), tínhamos os programas do Douglas Vitório e da Marina Zancaner Britto, Miss Catanduva 1967 e que apresentava todos os dias, às 6 da tarde, o Encontro Social.   

Reforços foram contratados ao longo do tempo, dentre eles o Dionísio da Ponte, que fazia o "Madrugada na Taba", na Rádio Tupi; Ailor Barbosa, bom capixaba; Virgílio Brito, que eu trouxera da Rádio Assunção de Jales (trabalhamos juntos, antes, em Rio Preto; José Mário de Vitto, repórter, e Maurílio Vieira, locutor, editorialista, vozeirão e talento (foi vereador). Ele e de Vitto eram da nossa concorrente, Rádio Difusora. 

No esporte, juntamente com Sérgio Mesquita, eu produzia os programas esportivos, os apresentava, fazia reportagens e narrava jogos. O narrador titular, extraordinário, era o Nelson Antônio. Magalhães e Esmar eram os comentaristas. O tempo muda as coisas. Nelson foi embora, eu passei a narrar, José Alfredo foi promovido a comentarista. Foi quando lancei o Augusto (Guy) Quelhas, um jovem torcedor e ouvinte da rádio, como repórter de campo. Ficou bom demais. Virou narrador de primeira e passou pelas principais emissoras de São Paulo.
Em foto recente, em frente à Câmara de Catanduva:
o hoje saudoso Toninho Grandizolli, nosso discotecário,
eu e Augusto Quelhas, o Guy
O então patrão Esmar Gabriel Aun nos deixou. Havia transferido a rádio para João Alberto Caparroz, iniciando-se aí a fase de ouro da "Voz". Além dos jogos locais, transmitíamos clássicos paulistas e, principalmente, os jogos da seleção brasileira. Estivemos no Maracanã dezenas de vezes. Idem no Maracanãzinho, onde transmitíamos o Miss Brasil, evento que se tornou tradição na emissora, depois que, em 1968, a catanduvense Mariluce Facci foi eleita Miss São Paulo. 





Mariluce Facci,
Miss Catanduva, 
em traje típico,
simbolizando a
riqueza da região
e de São Paulo,
a terra dos
cafezais.
Mariluce Facci,
Miss São Paulo 1968
Não posso deixar de registrar os nossos operadores de áudio, todos talentosos. Dejair Augusto, hoje pizzaiollo em Pindorama, foi o pioneiro, juntamente com Marinho Merchiori, Ricardo Farah, Kiko Peres e o meu irmão/amigo Jota Machado, que, depois, ótimo locutor se fez. E o Helinho, responsável pelos transmissores. Também conosco ali dois grandes riopretenses, Miguel Carlo Adas e Pérgio Pinheiro, com quem havia trabalhado na Rádio Independência. Éramos uma família. João Alberto Caparroz o "pai". E que pai!


O compositor Jorge Costa, a Rainha do Carnaval 68,
Amália Marangoni e o fantástico Wilson Simonal
Há muito a se contar dos meus tempos na "Cidade Feitiço", a "Sorcerer City". Dos seus bailes no Clube de Tênis ou Clube dos 300. Dos seus carnavais de rua, com carros alegóricos e escolas de samba (soube que acabou o melhor carnaval do interior paulista). Dos tempos de Botafogo e Catanduva que, extintos, deram lugar ao Grêmio Esportivo Catanduvense, criado por José Marques Romero e do qual todos nós, da Voz, somos sócios fundadores. 

Catanduva da Rádio Difusora, dos queridos Lecy Pinotti, Wilton José, Pedro Gomes, Luiz Carlos Teixeira, João Elias (o saudoso Salim Muchiba, da escolinha do Professor Raimundo), Nhô Sabido, Álvaro Franklin, Luiz Alberto Dotti. Difusora que nos deu uma das mais lindas vozes do Brasil, pessoa maravilhosa e um dos profissionais mais conceituados do rádio brasileiro, Walker Blaz Canonici. Voz padrão da Bandeirantes por mais de 30 anos, é voz oficial da HBO.


Walker Blaz Canonici, voz oficial da HBO
no Brasil e América Laina
Catanduva do Tchau Bello, do Flórida Restaurante, dos cines Bandeirante e Tropical. Do Café Central, onde se sabia de tudo. Dos desfiles monumentais no aniversário da cidade, que é comemorado hoje. São 101 anos.

Catanduva do Padre Albino, que chegou à cidade em 1938, 14 dias após a sua emancipação. Prestou relevantes serviços, dedicando-se aos mais necessitados. Criou uma fundação com o seu nome, que é a mantenedora do principal hospital da cidade (Hospital Padre Albino) e da Faculdade de Medicina.


Abril de 1968: o Padre Albino recebe das mãos
do prefeito Borelli, o título de
Cidadão Benemérito de Catanduva

Catanduva, cidade feitiço, de lindas mulheres, de poesia, arte, talento. Saudade da sua estação ferroviária, quando os trens ainda transportavam pessoas. Rememoro as emoções vividas no Estádio Sílvio Salles. dos carnavais que transmitimos. Das enchentes do São Domingos, o rio que corta a cidade. Pretendo colocar em livro essa história. Há amigos que vieram depois e que ajudaram a escrever um pouco mais essa época de ouro. 


Catanduva hoje, sempre Cidade Feitiço
Beijos a Catanduva, pelos seus 101 anos. Que Deus a abençoe e aos catanduvenses, hospitaleiros e felizes. Amo esta cidade. Parafraseando Paulinho da Viola, o São Domingos passou em minha vida e o meu coração se deixou levar...