26 de mar. de 2019

O filme de Bolsonaro e a ópera tragicômica de Lula


O presidente Bolsonaro e Michelle foram
assistir ao filme "Superação, o milagre da fé".
O sol nasce e as mãos e bocas que trafegam em quatro ou duas rodas atiram raios raivosos com pitadas fortes de intolerância. Parece que todos acordaram com hálitos de ódio. Precisam aprender a cuidar da assepsia oral, pois as mães alheias não merecem os títulos nada nobres anunciados por canejos ambulantes.

Na vinda para o trabalho, assustadores os olhares fulminantes e ensurdecedoras as buzinas dos que querem ser donos das ruas, como se o da frente fosse o culpado pelo rotineiro stop and go em que se transformou o trânsito maluco desta - infelizmente - cidade grande. Aqui nesta Goiânia, há mais carros do que gente e eles são mais educados do que os seus condutores.

Mudando o dial, acesso as minhas fontes em Brasília. Há fartura de crises de todos os tamanhos, produtos da megalomania extremada do clã do presidente. Arrumar confusão é com eles mesmos, uma espécie de quarteto fantástico às avessas. Passaram a tarde distribuindo bordoadas verbais.

Mais calmo estava o patriarca, depois que, de mãos dadas com a sua Michelle, foi ao cinema, pela manhã. Deveria fazê-lo diariamente, melhor do que ir aos tuítes confundir espinafre de caçarolinha com espingarda de caçar rolinha. Seria de bom alvitre se pudesse arrumar um tempinho para governar o Brasil.

O Centrão já avisa que a reforma, nos termos insistidos, não passa. E vai além: a PEC da Previdência, lavrada pelo governo Temer, será devolvida à ópera. Entendem os centristas que ela é mais palatável.

O ministro Paulo Guedes, que iria à Câmara falar com os deputados, pisou no freio e manteve-se na garagem da cautela. Ainda que se alardeie ter a PEC 67% dos deputados em apoio, o governo sabe que a sua reforma não passa sem que o presidente (ou preposto) compareça ao balcão de negócios. Óbvio ululante. Sendo mais da metade da Casa pró-pacote, por que então não o aprovam?

Ad conclusam, tragicômica a desastrada a chicana dos advogados lulistas, ao pleitearem, junto ao STJ, que os processos de corrupção e lavagem de dinheiro, que levaram o ex-presidente ao xadrez, sejam, de pronto, revertidos e julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral, foro para tais crimes, segundo entendimento do STF, semana passada.

Ao concordar com o expediente proposto pelos seus gladiadores jurídicos, Lula, que até então se dizia preso político e perseguido pela partidarização do Judiciário, simplesmente assina a confissão de delitos até então negados.

P.S. - Até o momento em que escrevia essas mal-traçadas linhas, nada de CPI da Lava Toga ter sinal verde no Senado. Mais fácil a red light. Por dois motivos: fere o Regimento Interno das Casa (art. 146: "Não se admite CPI sobre matérias pertinentes às atribuições do Poder Judiciário) e, também, a Constituição Federal (art. 71: o Senado só tem poderes para auditar aspectos administrativos do Judiciário, não podendo, jamais, questionar o que ele julga).