18 de mar. de 2019

A Casa Branca e a casa de Mãe Joana

O presidente Jair Bolsonaro falando a "formadores de opinião", em Washington
Foto: Alan Santos (PR)


O Brasil espera e precisa que o presidente Bolsonaro acerte, devolva o país ao desenvolvimento e esperança ao nosso povo. Há um país em oração para que isso aconteça.

Mas há um conjunto de atitudes que resultam num grande ponto de interrogação. Começa pelo vazio no comando. Há muita gente, sem legitimidade, falando pelo presidente. Esta viagem aos Estados Unidos só faz aumentar a dúvida sobre quem é que de fato manda aqui.

Na chegada, o jantar na casa do embaixador brasileiro Sérgio Amaral mais pareceu bandeja de loas ao escritor Olavo de Carvalho, guru de Bolsonaro, do que talheres de boas vindas ao nosso presidente. Presentes à farta mesa estavam formadores de opinião e ativistas da extrema direita estadunidense, capitaneados por Steve Bannon, o mago estrategista de Trump.

Pelo que lemos, vimos e ouvimos, o périplo da nossa comitiva, mais que do que estreitamento de relações, cuidará da materialização da nossa subserviência aos anfitriões. No ágape de domingo, alguns pontos foram discutidos. Um deles, a nossa relação com a China, maior importadora dos alimentos que produzimos. Trump não quer os amarelos por lá e, no jantar, o alerta foi dado: qualquer concessão aos chineses merecerá restrições de Tio Sam.

Segundo Olavo, bisando o presidente eleito, "a China pode comprar ao Brasil, mas não comprar o Brasil ". É o velho discurso do macarthismo ianque e do lacerdismo tupiniquim: nada de negócios com países comunistas. Coisa de mentalidades jurássicas. Comercialmente, a China surfa nas ondas do capitalismo. Vamos dizer não a um bom freguês, porque o Trump 1 manda e o Trump 2 obedece.

Nesta terça, 19, ambos os presidentes estarão reunidos para firmar o "Pacto Donald". Dentre os pontos principais, o uso de tecnologia americana para o lançamento de satélites, por nós e por eles, na nossa base em Alcântara. Outro, polêmico e questionável, é o da não exigência de vistos para que cidadãos estadunidenses entrem no Brasil quando quiserem, sem que tenhamos direito à reciprocidade, ou seja, não podemos entrar no país deles pela mesma norma. Ao oficializar o nihil obstat, nos fazemos (mais uma vez) quintal da Casa Branca. Pior: viramos casa de Mãe Joana. Infelizmente.

P. S. - O Brasil torce e espera que o presidente acerte, mas que também governe, decida e aja como presidente de todos os brasileiros e não só dos que nele votaram.