15 de mar. de 2019

"Não sois máquina; homem é o que sois"


Há duas palavras que, por estupidez, ignorância, negligência, prevaricação e irresponsabilidade, abolimos do nosso dicionário - e ambas indispensáveis (vitais) para o nosso "convívio" familiar: LIMITE e NÃO.

Limite, do latim "limes", era um conceito simples: indicava o caminho que marcava os confins dos terrenos agrícolas e, depois, todos os tipos de fronteiras. E a regra era simples: não ultrapasse.

Abolimos o limite e o agente limitador, o não, aquele advérbio preferido pelo Criador, quando, via Moisés, cravou em pedra um decálogo regulador das ações humanas, no dia a dia: não roubarás; não matarás; não levantarás falso testemunho; não fornicarás etc.

Os meus pais jogaram duro comigo, mas os pais de hoje são "complacentes". "Paizão legal", "Mamãezinha querida", bajulações interesseiras dos filhotes e condescendência intencional de pais que, abstendo-se do dever de educar os seus mocinhos e moçoilas, aquiescem a tudo, deixando à margem os moldes da decência, da moral e dos bons costumes. Não estão criando homens e mulheres, mas tão só buscadores de bens materiais ou simbólicos. Criando seres vazios.

Trabalhar é preciso, viver não é preciso. Parafraseando o general romano Pompeu, eis o mandamento único dos caçadores de bens materiais que, na conjugação permanente de um único verbo - TER -, ignoram o verbo da existência, da razão de estarmos aqui: SER.

Eu sou, tu és, ele é… Preferem o eu tenho, tudo tens, ele tem… Na busca dessa posse, desse ter mais e mais, despejam os seus filhos diante das tevês e breguetes eletrônicos condicionantes e/ou alienantes, antes ou depois de os despejar nas escolas, transferindo aos professores a responsabilidade negligenciada em casa.

Pobres mestres, quase sempre por eles agredidos verbal e, muitas das vezes fisicamente, quando não pelos pais dos tais, assim que os seus queridinhos, preguiçosos, relapsos, que nada estudam e nada sabem, levam nota mínima nas provas que não dão conta de fazer.

A educação, que busca formar homens e mulheres para o exercício da cidadania e dos ricos valores que os dignificam, perde, hoje, para a cultura do consumismo e da busca do prazer individual e imediato. O resultado é desastroso: exército de cabeças ocas, geração sem ideias

A modernidade e o progresso somados aos preceitos da família tradicional podem, sim, resultar num conjunto harmônico com liberdade e responsabilidade. Depende da determinação, da perseverança, do querer de todos (a casa sobre a rocha).

Sem limites e sem nãos, sem a bússola de verdadeiros pais, são filhos do ócio, dos vídeos, dos sites de conteúdos perigosos - desvios de conduta, pedofilia, racismo, intolerância, violência etc., quando não adotados pelas drogas.

Busco em "Tempos Modernos", de Chaplin, a pertinente máxima "não sois máquina: homem é o que sois". O universo da tecnologia está mecanizando sentimentos, robotizando a família e aniquilando almas. Para essas, não há prótese.

P.S. - A instituição família está respirando por aparelhos. É preciso salvá-la. E, também, trazer de volta a tolerância, ressuscitar o perdão e o mais importante dos sentimentos: o amor, a verdadeira fagulha divina.