O argentino Nestor Furlán recebe a bandeirada da vitória no GP do Rio, sagrando-se campeão da temporada de 1989 |
Ano de 1989. Campeonato
Sul-americano de Fórmula 3, etapa de Cascavel, Paraná. Era um sábado. O meu voo
desceu em Foz do Iguaçu. Ali mesmo no aeroporto aluguei o único carro que
restava na locadora – um fusca, com aquela faixa preta cruzando o teto (lembrava
os fuscas da frota do Bamerindus). Volante duro, resultado de uma batida.
Demorei hora para chegar a Cascavel.
Direto para o Hotel Deville. Malas no
quarto e rumei para o autódromo, palco da
corrida. Equipes em preparativos. Christian Fittipaldi, aos 18 anos, era a atração – estreava
na modalidade, com o pai Wilsinho
comandando o time.
Eu dirigia o jornalismo da TV Brasil
Central e era, também, narrador
esportivo – de futebol ao jogo de boliche, passando pelo vôlei,
basquete, futsal, automobilismo etc.. Fernando Campos, o meu comentarista, estava ali desde sexta, em companhia da mulher, Marlene. Foram
curtir as Cataratas.
Domingo, a prova seria às 13 horas. Chegamos ao
autódromo às 10 e fomos pegos no contrapé. Simplesmente, a empresa de telefonia
responsável não havia instalado terminais para que pudéssemos fazer a
transmissão. Mostrei ao encarregado o pedido feito com um mês de antecedência e
aí começou o tal liga pra cá, liga pra lá.
Como a burocracia acabaria tomando o
tempo, sugeri a ele que nos cedesse a linha de um dos orelhões ali existentes,
o que resolveria, parcialmente, o problema. Falaríamos, mas não teríamos
retorno, ou seja, não ouviríamos qualquer chamado dos estúdios.
A linha foi colocada sobre os boxes.
Ao meu lado, um pequeno (e barulhento) gerador a diesel da Rádio Belgrano, de Buenos Aires. Coloquei o monitor de TV dentro de uma caixa
de papelão, escurecendo a tela para poder enxergar a imagem.
Resolvemos o problema do retorno
graças ao desprendimento do nosso gerente da TV, Lourenço Tomazetti, com quem
eu conversava durante os comerciais e que dava a deixa para as minhas entradas.
Alencar Júnior, nosso grande campeão
de Stock-Car, estava na F3 e era um dos destaques da prova, juntamente com
outros brasileiros, além de Christian, casos do Leonel Friedrich, Pedro
Muffato, César Bocão Pegoraro, dentre outros.
O argentino Nestor Gabriel Forlán
venceu a prova – e foi o campeão da temporada, com 57 pontos, seguido por
Leonel Friedrich, com 54.
Que domingo aquele! Um calor de 40 graus, fumaça do gerador dos
argentinos a incomodar, sentamos sobre a laje com as pernas cruzadas que, duas
horas depois, não mais queriam se descruzar. Nos ajudou no trabalho o enviado
especial de O Popular, Donizete Araújo, trazendo as informações dos bastidores.
A transmissão foi perfeita, ainda
que com os problemas que enfrentamos. Registro aqui estas memórias em
reverência aos talentos dos meus companheiros de trabalho. Em especial, Fernando
Campos, “doutor” em automobilismo; Lourenço Tomazetti, com quem participei da
realização de grandes eventos, e à equipe técnica da TBC. Temos ali grandes
profissionais, infelizmente não valorizados pelos badamecos políticos que passam
pelo comando do ex-CERNE, hoje Agência Brasil Central, sem nenhum compromisso
com a casa.