O ataque a tiros na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, deixou 10 mortos e 10 feridos |
Suzano, São Paulo. Tiros em uma escola, uma dezena de mortos, autores se suicidam. Não tão comum aqui, ainda não se sabe o que teria levado duas pessoas a tal conduta. A verdade é que temos hoje, no Brasil e no mundo, a crescente cultura da violência, da arrogância, da prepotência, males que têm como ingrediente o mais abjeto dos fatores sociais negativos: a intolerância.
E ela se alastra, arraiga e ganha contornos mais nefastos com a idiotia dos que vestem fantasias ideológicas e desfilam, em blocos renitentes, as mais estúpidas versões de suas aversões, como se senhores da razão fossem. Aceitam os que comungam de suas ideias e ódios, desprezando, agredindo e extirpando do contexto que pretendem impor, as vozes dissonantes.
Vivemos em uma sociedade consumista, imoral e avançada, movida pela ambição, e que, infelizmente, com a perigosa catequização da mídia, descarta as virtudes - apud Maquiavel - e, voraz, tudo faz pela busca da fortuna . Modo finis est licitus - ensinava o malévolo florentino o seu pragmático brocardo: o fim justifica os meios.
Vivemos em uma sociedade atrelada ao visor de celulares e submissa ao brilho da tela dos televisores, inserindo em seus cotidianos o desfile de condutas degradantes, onde preponderam a dilapidação dos bons costumes, a idolatria da violência e a banalização da vida.
Filmes carregados de armas carregadas de balas nas mãos de crianças e adolescentes carregados de inconsequência. Ou de pancadarias e de estímulo a elas. Pais espancando filhos e vice-versa. Maridos agredindo esposas e, sempre, o ciúme e uma garrafa entre eles.
Games violentos frequentam as salas das casas, onde, sem a medida do limite, são construídos meninos arrogantes, de caracteres deformados, que se dão ao desrespeito às regras sociais, indo do culto prazeroso ao vandalismo à cultura do bullying nas escolas. Livres e soltos, aprendem a cultivar as diferenças e a rejeitar as igualdades. Filhos da plutocracia, acham que tudo podem.
Na outra mão da vida, estão os hipossuficientes, os filhos paridos pela desigualdade social, aqueles que só são lembrados em anos eleitorais e, depois, esquecidos pelas autoridades, que fecham os olhos ou as janelas de seus carros, nos sinais de trânsito.
Estigmatizados pela cor, pela raça, ficam à margem, excluídos do contexto dos verbos ser e ter, num mundo onde não são, apenas estão, e nada têm, a não ser sonhos com as coisas bonitas, o conforto e a vida digna. Na impossibilidade, armas, o tomar pela força.
Nesse mundo permeado por injustiças e impunidades, em que pelejam fortes e fracos, ricos e pobres, a paz é discurso. A violência, oxigênio. No meio do caminho de ambos, uma pedra. Crack.
P.S. - E o nosso capitão-presidente acha que disseminar o porte de armas é solução para a violência.