11 de mar. de 2019


A matemática Mandrake dos barões de Arurana

Lendo Katherine Alexandria e Larissa Quixabeira, em O Popular: "Onde foi parar o dinheiro da Celg?". 

Li e reli as explicações dos perdulários que a venderam. Gastos em estradas (a mais cara delas, a GO-070, consumiu 62 milhões e está cheia de buracos) e em três maiores obras da área de saúde (R$45 milhões 541 mil, do total de R$85 milhões e 100 mil. Detalhe: nenhuma delas funcionando, etc..

Li as defesas de ambos nesta boa matéria. Argumentos pífios. Exibir 60 ofícios sobre obras e seus custos não é prova material para justificar tais gastos. Mas, ainda que haja constatação de alguma verdade alegada, chama a atenção apenas um item da - se é que podemos assim chamar - prestação de contas. E é para este único ponto que chamamos a atenção e o contribuinte quer saber: o custo de obras sem descrições específicas: R$ 205 milhões.


Pasmem. Custo de obras sem descrição específica? R$ 205 milhões gastos sabe-sabe-se lá com o quê! Explicações são necessárias e urgentes. Contra qualquer silêncio, reverberando, há a pergunta que insiste em não calar: where is the money? Où est l'argent? Donde está el dinero? Ou, popularescamente falando, cadê a grana?  
Resumindo: com a "venda" da Celg para a italiana Enel, Goiás recebeu, na época (2017), R$ 1 bilhão 104 milhões. Pelos números apresentados da gastança, os antecessores de Caiado gastaram R$ 1 bilhão 143 milhões - R$ 39 milhões acima do dinheiro recebido.



P.S. - Na mesma edição do Pop, li entrevista do ex-governador Maguito Vilela, onde critica o atual governo estadual. Quer ver obras. Interessante lembrar de que, quando o tal senhor governou Goiás, ele só conseguiu ter caixa porque vendeu a usina de Cachoeira Dourada. Bom lembrar que também é de sua lavra outro ato lesivo aos goianos: a federalização do BEG, Banco do Estado de Goiás - processo iniciado por ele e materializado pelo seu sucessor. Ambos alegam exigência de FHC. Sempre os outros. Mal de maus políticos. Assumir culpas faz parte da hombridade.

Peripécias manoelinas no "quintal" da ditadura


Manoel de Oliveira, em 1969
Ano de 1969. Anápolis, sexta-feira, 28 de fevereiro, inauguração dos refletores do Estádio Jonas Duarte. 
Em campo, Anápolis, o famoso Galo da Comarca, e Flamengo, que trouxe como grande atração o idolatrado Manoel Francisco dos Santos, o tal Mané Garrincha. 

Estávamos lá. Equipe 1320, Rádio Clube (hoje Sagres 730). O anapolino (e grande "basqueteiro") Habib Issa narrando, Carlos Alberto Sáfadi comentando e eu na reportagem de campo. O Mengo perdeu: 1 a 0.

O inusitado da noite ficou por conta do amigo Manoel de Oliveira, um dos nossos narradores. Morando em Anápolis, ele comandava programa de esportes na histórica Rádio Santana. Grande Mané!

Na época, os militares estavam no poder. Forte reduto do MDB, onde os irmãos Santillo (chamados, à época, de Irmãos Coragem) comandavam a resistência, a cidade era tida pelo regime como campo de fácil exploração por elementos subversivos, interessados na perturbação da ordem. De molde que o pessoal do SNI - Serviço Nacional de Informações não saía dali.

Foi nesse clima e para a festa no estádio que chegam para um grande show dois artistas famosos de então: Joelma e Nelson Ned. No afã de "furar" as emissoras concorrentes, Mané foi ao hotel e levou ambos aos estúdios. Comemorava: entrevista exclusiva.

Chegaram à rádio por volta das 19h10min. Estava no ar A Voz do Brasil, o que impedia a materialização do "furo". Mas Mané não se viu impedido. Agitado que só, mandou o operador tirar a cadeia nacional do ar e pôs-se a bater papo com os cantores. Cerca de 20 minutos depois, duas viaturas estacionam na porta, quatro "guarda roupas" desceram e deram voz de prisão aos quatro (o operador de som, coitado, foi levado também).

Ao sair da cadeia nacional, Mané entrou na cadeia da Polícia Federal e ali ficou até entardecer do dia seguinte. Joelma e Nelson Ned com ele. Saíram mais cedo. Ambos queriam matá-lo. Resultado: não houve show (nem o de Garrincha, que já estava com problemas no joelho).

Em 1973, estava eu no Aeroporto de Congonhas e me encontro com Nelson Ned. O lembrei do fato. Rimos muito. Perguntei a ele como havia conseguido ser solto primeiro que o Mané.

- "Eu era o menor problema", disse ele. Literalmente.


P.S. - No final daquele ano, Henrique Santillo foi eleito prefeito de Anápolis. Em 1973, o seu sucessor, João Batista Júnior, do MDB e eleito pelo voto, foi cassado pela ditadura no dia 26 de agosto. No dia seguinte, por abrigar base aérea da FAB, a cidade foi declarada área de segurança nacional. Dois dias depois, assumiu a administração da cidade, como interventor, o engenheiro Irapuan Costa Júnior, que, depois, governou Goiás de 1975 a 1979.

"Homines sunt ejusdem farinae"


O procurador Diogo Castor, da força-tarefa da Lava Jato, denuncia a manobra no STF para tentar transferir investigações de corrupção para a Justiça Eleitoral. A tranquibérnia está sendo gestada na Segunda Turma, que programou, para a próxima quarta-feira, o julgamento para a materialização da embófia.

“Como no Brasil todo político corrupto pede propina a pretexto de uso em campanhas políticas, se o entendimento da turma do abafa sobressair, praticamente todas as investigações da Lava Jato sairiam da Justiça Federal e iriam para Justiça Eleitoral, isto incluindo complexas apurações de crimes de lavagem de dinheiro transnacional, corrupção e pertencimento à organização criminosa”, diz Castor, em artigo exclusivo para O Antagonista.

Encurtando a conversa: todos os casos relacionados à Operação Lava Jato, em que haja a alegação de que a grana suja de propinas e caixa 2 seria definida como dinheiro de campanha eleitoral, caberá à Justiça Eleitoral investigar todos os crimes federais relacionados.

A chamada "turma do abafa" se sustenta no art. 78, IV, do Código de Processo Penal, cujo texto diz que, havendo conexão entre um crime comum de competência da Justiça federal e estadual e um crime de competência da Justiça Eleitoral, esta última deve exercer força atrativa e julgar tudo.

Os ilustres togados da Segunda Turma do STF (que é o guardião da Constituição) querem que uma lei ordinária (Código de Processo Penal) prepondere sobre o texto constitucional, modificando-o, e, na esteira da insubordinação, pretendem ignorar julgados do Superior Tribunal de Justiça a quem cabe decidir sobre conflitos de competência jurisdicional, afastando a força atrativa e determinando a separação dos feitos. É isto que, mais uma vez, estará em julgamento na próxima quarta-feira, 13.

Que venha logo a Operação Lava Toga. É preciso "estourar" a caixa preta da confraria dos privilegiados. Resta saber quando e quem há de. Conhecedores dos escaninhos do Judiciário garantem haver ali mais corrupção do que a soma de ilegalidades símiles do Executivo e do Legislativo.

"Homines sunt ejusdem farinae". São homens da mesma farinha.

P.S. - A Operação Lava Jato completa cinco anos e apenas 45 dos 426 denunciados estão na cadeia. Entre os engaiolados estão alguns líderes políticos empresários. é esse restante que conta com a trupe do abafadores. Até quando?