"Marconi diz que não dá para comparar acordos da Celg. O acordo do ano passado era boato. Não posso falar de algo que não aconteceu”. Palavras do governador Marconi Perillo a O Popular, em 22 de dezembro de 201, quinta-feira.
Afirmação incisiva:
“o acordo era boato”.
E acentua, para que não pairem dúvidas:
“Não posso falar de algo que não aconteceu”.
Traduzindo: Alcides Rodrigues e Jorcelino Braga são mentirosos, enganadores, levianos. Inventaram um acordo que nunca aconteceu.
Palavras de: MARCONI PERILLO, governador do Estado de Goiás.
Mas ele disse mais, como mostra a manchete de página da matéria:
“Jamais recusei o acordo do ano passado”.
Não havia como recusar o que não existia. O acordo que acabara de firmar, sim, este vale. E não é com Lula, é com Dilma, que é da área.
Marconi disse o quê? Que o acordo foi boato.
Os trechos de ofício que publiquei foram extraídos de um relatório elaborado por Simão Cirineu Dias, secretario de Fazenda de Goiás, detalhando o acordo feito por Alcides e Braga com o Tesouro Nacional. Este documento eu o obtive de fonte ligada ao Ministério de Fazenda.
E ele prova o quê? Que o acordo não foi boato. Prova que, se celebrado o pacto, as finanças goianas estariam nos trinques, com o ajuste fiscal cumprido, a dívida da Celg acertada, sem que o Estado precisasse prescindir do controle acionário dela e ela podendo reajustar a sua tarifa congelada desde 2006.
Ou seja, o relatório desmente de forma cabal o governador. O acordo existiu. Está lá no ofício 1352, de 1º de setembro de 2011. E o Sr. Marconi, três meses depois, afirma a O Popular, que tudo é boato, que não pode falar de algo que não aconteceu.
Aconteceu e salvaria as finanças e a Celg. No documento, Cirineu informa que “a dívida da empresa, até junho de 2010, era da ordem de 5 bilhões 460 milhões, dos quais 2,9 bilhões já vencidos”.
Cirineu conta que “o governo, como acionista majoritário, buscou autorização de empréstimo no valor de 3, 728 bilhões que, somados ao aporte de capital da Eletrobras e a liberação dos recursos bloqueados pela inadimplência possibilitariam a recuperação da saúde financeira .da empresa”.
Ele conta ainda que “as dificuldades financeiras da empresa provocaram atraso no recolhimento dos tributos estaduais. O ICMS vencido em dezembro de 2010 acumulava o montante de R$ 922.424.828,76, em valores nominais”.
E arranca as máscara da farsa do governador: “Com a liberação do empréstimo de 3 bi 728 milhões, a Celg D quitaria as suas dívidas e ainda as dívidas do ICMS com a receita estadual, tornando-se adimplente...”.
Diz que, “caso esses recursos tivessem ingressado no Tesouro estadual, o estado terias cumprido o programa, uma vez que o resultado primário teria sido alcançado”.
O secretário de Fazenda dele disse que o acordo era altamente positivo para Goiás. E lamenta ele não ter sido realizado, “terem os esforços sido em vão, deixando o Tesouro estadual sem receber a dívida do ICMS, no exercício de 2010˜.
O governador Marconi Perillo transformou tais esforços em vão. Ele simplesmente jogou a negociação na lata do lixo e fez uma outra em que aumenta a dívida de Goiás e ainda dá as Celg de presente à Eletrobras.
– O que Marconi havia dito mesmo? Que o acordo era boato.
– Disse também que não podia falar de algo que não aconteceu.
– De algo o quê?
– De algo que não aconteceu.
Pois bem. No dia 09 de dezembro de 2010, a sua equipe de transição encaminhou um documento ao governo federal pleiteando a anulação da operação, e, como se Alcides Rodrigues e Jorcelino Braga tivessem feito trambiques no ajuste, também pede a “responsabilização de todos os envolvidos”.
Como queriam punição para quem estava salvando o Estado e, principalmente, a Celg, o que se deveria pedir, agora, em relação aos senhores implicados?
Como pode um governante que se via crível, confiável, dar uma guinada moral de 180 graus, transformando-se na antítese dos valores exigidos para se confiar destinos da res publica?
O seu grau de mendacidade medido aqui o faz compatível com a república da contravenção que estava se instalando silenciosamente em Goiás.
Afirmar ser boato o que sabia ser verdadeiro;
Afirmar não poder discorrer sobre o que não existe, sendo sabedor em minúcias da existência do negado, é cometer crime contra a fé pública e atentar contra a honra e a dignidade dos signatários do pacto ao qual ele nega, leviana e irresponsavelmente, a existência.
Entendo caber procedimento judicial contra Sua Excelência. Da sua conduta resultou a entrega, de graça, de uma das empresas estratégicas do Estado que, a preço de mercado, valeria consideráveis bilhões de dólares.