Este é o Lago Frei Leandro que, em 1575, fazia parte do reduto dos tamoios. A foto é de Marc Ferrez (1890) |
Um pouquinho de coisas da História. Voltemos ao passado, a 1575, ano em que Antônio Salema assumiu o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte sul do Brasil. Português natural de Alcácer do Sal, tal Salema era um jurista formado em Coimbra e se destacava pela arrogância, prepotência e pelo ódio mortal que nutria pelos nossos indígenas.
Tão logo assumiu, tomando ciência das leis então vigentes, eis que descobre uma editada pela Metrópole e que lhe deu meios para consolidar as suas ambições. A referida lei isentava de impostos, por dez anos, quem erguesse engenhos de cana de açúcar no Brasil.
Ali no Rio só havia um, construído em 1573, de propriedade do governador antecessor, Cristóvão de Barros, o dono de Magé e, à época, Provedor da Fazenda Real. Um só engenho fazia do dono o poderoso maior, o que aumentou ainda mais as suas ambições.
Só que havia um porém: as terras boas, com água em abundância (Lagoa, Leblon, Jardim Botânico) estavam ocupadas pelos tamoios, já incomodados pela agitação e desejosos de atacar as cariocas (em tupi, carioca = casa do homem branco). Pensavam em “jantar” os brancos, mas, na verdade, acabaram sendo “almoçados” por eles.
Salema, simplesmente, decidiu extingui-los do mapa para erguer, no lugar de suas aldeias, o seu engenho (cuja história posterior é uma novela). Como o governo não dispunha de numeroso exército, os coronéis fizeram anunciar a Salema as suas deficiências em armas e gente. O governador os dispensou. Disse não precisar de seus jagunços para desocupar a área.
Astuta e criminosamente, o tal senhor mandou que se recolhesse as roupas das pessoas doentes de varíola e que fossem jogadas nas matas adjacentes. Os índios as pegaram, as vestiram, contraíram a doença e morreram.
Era o Brasil, nos idos de 1575, já vivendo experiências com armas bacteriológicas. Obra de um português, Antônio Salema, que de burro não tinha nada. Apenas o seu (mau) caráter era moldado por uma das “regras de ouro” da maioria dos maus políticos: o fim justifica os meios.