23 de mai. de 2015

Governador do Rio usa arma biológica contra índios

Este é o Lago Frei Leandro que, em 1575, fazia parte do reduto
dos tamoios. A foto é de Marc Ferrez (1890)

Um pouquinho de coisas da História. Voltemos ao passado, a 1575, ano em que Antônio Salema assumiu o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte sul do Brasil. Português natural de Alcácer do Sal, tal Salema era um jurista formado em Coimbra e se destacava pela arrogância, prepotência e pelo ódio mortal que nutria pelos nossos indígenas.  

Tão logo assumiu, tomando ciência das leis então vigentes, eis que descobre uma editada pela Metrópole e que lhe deu meios para consolidar as suas ambições. A referida lei isentava de impostos, por dez anos, quem erguesse engenhos de cana de açúcar no Brasil. 

Ali no Rio só havia um, construído em 1573, de propriedade do  governador antecessor, Cristóvão de Barros, o dono de Magé e, à época, Provedor da Fazenda Real. Um só engenho fazia do dono o poderoso maior, o que aumentou ainda mais as suas ambições. 

Só que havia um porém: as terras boas, com água em abundância (Lagoa, Leblon, Jardim Botânico) estavam ocupadas pelos tamoios, já incomodados pela agitação e desejosos de atacar as cariocas (em tupi, carioca = casa do homem branco). Pensavam em “jantar” os brancos, mas, na verdade, acabaram sendo “almoçados” por eles. 

Salema, simplesmente, decidiu extingui-los do mapa para erguer, no lugar de suas aldeias, o seu engenho (cuja história posterior é uma novela). Como o governo não dispunha de numeroso exército, os coronéis fizeram anunciar a Salema as suas deficiências em armas e gente. O governador os dispensou. Disse não precisar de seus jagunços para desocupar a área.  
Astuta e criminosamente, o tal senhor mandou que se recolhesse as roupas das pessoas doentes de varíola e que fossem jogadas nas matas adjacentes. Os índios as pegaram, as vestiram, contraíram a doença e morreram.  

Era o Brasil, nos idos de 1575, já vivendo experiências com armas bacteriológicas. Obra de um português, Antônio Salema, que de burro não tinha nada. Apenas o seu (mau) caráter era moldado por uma das “regras de ouro” da maioria dos maus políticos: o fim justifica os meios. 

22 de mai. de 2015

A revolta da vacina


Deixa eu voltar ao papo sobre o Oswaldo Cruz. A última batalha dele foi contra a varíola. Ela assolava a velha cidade do Rio. Doença muito contagiosa, matava ou deixava cicatrizes. Por conta disso, o nosso médico sanitarista decidiu que a vacina teria que ser obrigatória. Questão de vida ou morte. 

Assim, candidatos a cargos ou funções públicas, pessoas que pretendiam se casar, viajar e até se matricular em escolas, só o conseguiriam com o atestado de vacina. Os militares também foram obrigados. Idem todas as crianças com menos de seis meses. 

Aí entra em cena aquele povinho que gosta de agitar e tumultuar as coisas. Logo estava de boca em boca que a tal vacina ou matava ou aleijava. Ou seja, os males causados pele varíola eram atribuídos ao remédio. O mínimo de mal que a vacina causaria era deixar a pessoa com “cara de bezerro”. 

Congressistas usavam a tribuna para atacar o médico, para inventar coisas. Chegou-se ao absurdo de dizer que a vacina era feita com o sangue dos ratos comprados. 

Fizeram um inferno e o pau quebrou. A maioria da população não aceitava a exigência e se rebelou. Foi a chamada Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz não cedeu. Aguentou firme. Enfrentou e endureceu o jogo. Como os que eram vacinados não apresentaram as reações alardeadas, aos poucos os revoltosos foram cedendo, até que se entregaram de vez.

Hoje, a preocupação é a de que a varíola, a exemplo do que já se dá com o dengue e a febre amarela, volte a nos atormentar.  O culpado do que aí está todo mundo sabe: o tal do Fernando Collor, que acabou com a SUCAM.    


P. S. - Na época da revolta, a febre amarela matou um goiano ilustre. Trata-se de Antônio Amaro da Silva Canedo, o Senador Canedo, que representou o Estado de Goiás na Primeira República, a chamada República Velha. 

Prendam Collor, o "pai" da nova febre amarela



Ano de 1903, Rio de Janeiro, a Capital da República. De maravilhosa, ainda, a cidade não tinha nada. Era fedida, pestilenta. Chamavam-na, isto sim, de túmulo de estrangeiros, tantas eram as doenças contagiosas que ali proliferavam, castigando os seus habitantes e quem a visitava.   

Tal imagem não era nada boa para a nossa cidade sede do Governo, centro de negócios e alvo das atenções dos investidores estrangeiros. Era preciso dar um jeito urgente naquela tétrica situação. Foi quando o presidente Rodrigues Alves convidou o sanitarista Oswaldo Cruz para comandar o que seria hoje o nosso Ministério de Saúde. 

Formado aqui, mas graduado no Exterior, o nosso doutor arregaçou as mangas e, em menos de uma semana, já tinha um plano de combate ao inimigo imediato: a febre amarela. Esta é uma doença causada por um vírus que ataca o fígado e é transmitida ao homem por mosquitos, como o aedes aegypti. Amarela porque deixa as pessoas amareladas.

O nosso herói começou por identificar os doentes e acabar com os focos da doença. Para isso, estruturou a campanha em moldes militares, dividindo a cidade em 10 distritos sanitários, cada qual chefiado por um delegado de saúde. Além da polícia sanitária, formou brigadas de mata-mosquitos que, uniformizadas, tinham o poder de entrar nas casas. Foi uma verdadeira operação de guerra.

Em tal época não tínhamos, ainda, emissoras de rádio e TV. Os jornais, ao invés de auxiliá-lo, pelo contrário, preferiram atacar a sua reputação com duras críticas e maliciosas gozações. Pasmem, amigos. Na própria faculdade de medicina os nossos “sábios doutores” achavam uma maluquice de Osvaldo Cruz atribuir a um mosquito a transmissão da febre amarela. Acreditava-se que a maioria das doenças era provocada pelo contato com roupas, suor, sangue e outras secreções dos doentes. 

Todo mundo quebrou a cara. A campanha surtiu efeito e os casos foram diminuindo, até desaparecerem. Cruz pediu ao presidente que mantivesse nos quadros da saúde todo o pessoal dos distritos e das brigadas sanitárias, com a missão de inspecionar a existência de fontes causadoras de focos. 

Dessas brigadas resultou a nossa SUCAM, infelizmente extinta pelo inconsequente presidente Fernando Collor, que transferiu a responsabilidade para os municípios, mas não os recursos e nem os funcionários já qualificados para a tarefa.

É preciso descobrir uma saída jurídica de molde a processar tal irresponsável e botá-lo na cadeia. A febre amarela, a exemplo do dengue, está de volta e matando. Prendam este filaucioso. A culpa é dele.  

21 de mai. de 2015

Embarque & Embates

Mais um texto brilhante da poetisa, contista e psicóloga Marisa (A)Penas, exclusivamente para você. 


1º dia do ano de 2015. Aboletada, não tão confortável como gostaria, pois o espaço é pequeno no nível que viajo, decolo contente nas asas da TAM, rumo à minha GYN. O possessivo fica por conta da particularidade sempre à frente. Degusto Goiânia ao meu modo, no prazer de fazer parte dela.
Experiências no saguão.

A figura estranha de um jovem. Observo calada, e discreta, claro!... Todavia, os pensamentos se agitam. Uma questão me chega: O quê levaria alguém a transformar os cabelos em grosseiros cipós? Isso mesmo!... Cipós ásperos para a visão, com aparência de sujeira. Cordas grotescas onde a água não penetra. Um dia foram fios de cabelos.

Tento arquitetar razões. Acha bonito?... É gosto. Quer chamar atenção? Conseguiu. Detesta pente e xampu? Parece que sim. Concluindo meu arquivo: onde água não atua, falta higiene.

Agora me atrai a agitação duma criança insistindo em virar mala, pois se joga no espaço destinado ao despacho de bagagens.

A mãe, sem nenhum pulso educacional – sou perita nesta observação –, expele palavras num som de gata no cio: “Fulaninho, não pode...”. Óbvio que o pirralho continua o movimento, até que um funcionário intervenha interrompendo a cena ridícula, retirando o “mala” pelo braço. E a mãe, miando: “Tá vendo, Fulaninho?”... 

Nestas ocasiões, me pergunto por onde andam os bons costumes, as orientações de respeito à convivência. Algumas gerações, das quais faço parte, se primaram na distribuição de moedas valiosas para o uso comportamental de não perturbar aos outros com atitudes desagradáveis.

Arrematando a “Babel Aeroportuária” no saguão de embarque, um representante do sexo masculino fala ao celular à moda de locutor esportivo narrando jogo, ou seja, gritando. O mais bizarro é o assunto numa linguagem tosca. Poluição sonora sufocante!... Será que ele imagina o incômodo provocado? Todos têm o direito de se comunicar, da forma que bem desejarem,  desde que não atropelem aos que estejam por perto.

Questão de ordem. Aliás, o lema de nosso “lábaro cívico” é bem desconsiderado. Verdade entristecedora. Vivemos num país sem ordem, a partir da cúpula onde inexistem leis para seus crimes. Sem a devida ordem, o progresso passa longe. A farra é antiga e já se fez tradicional, para meu desgosto. 

Voltando ao meu quadrado, voei pelos registros mnemônicos ouvindo minha mãe que foi amorosa mas severa deixando legados nos exemplos e nos ensinamentos verbalizados.

Gostava de nos advertir: “Tenham cuidado com o que fazem, onde vão. Prestem atenção nos seus passos, para não servirem às críticas”. Acolhi como sabedoria no uso da discrição, no respeito aos limites, na consideração da presença do outro.

Aprecio o progresso, louvo a tecnologia, respeito os direitos, aprendo com a diversidade humana, considero justo o usufruto da liberdade. Muitos aspectos destes tempos modernos me encantam.

Todavia, me vejo agredida pelo comportamento generalizado, incentivado pela mídia, onde cada um elimina a presença das outras pessoas, como se o Universo estivesse a serviço da centralização do umbigo de cada sujeito, desconsiderando tudo mais.

Muito já se disse  acerca deste aspecto. Um imediatismo sustentado pelo hedonismo granítico que beira o instintual, um materialismo bárbaro onde tudo é venalmente avaliado para dar a proporção indiscutível do “mais eu” e, um dos piores efeitos, na minha percepção, é o atropelamento inconsequente da educação básica de ocupar apenas o próprio lugar, não invadindo a seara alheia.

Uma transgressão da lei física que enuncia “dois corpos não ocupam o mesmo espaço, ao mesmo tempo”. A lógica seria: se o outro está lá, não posso estar,  simultaneamente. É preciso aguardar a vez. 

Nada disso!... Sai da frente, porque cheguei com minha grosseria, meu celular barulhento, furando fila, impondo hábitos, etc...
Um horror!
Despachei minha bagagem como se faz dentro das normas. Segui calmamente para a sala de embarque. Por lá as confusões seriam outras.
Tenho a consciência tranquila de não azucrinar quem está por perto. Vou executando a minha parte e me divertindo com tamanhas alterações. É o meu país...

Marisa (a)Penas