Jane Fonda, em Barbarella |
Rádio
esportivo goiano. Saudade dos bons e
velhos tempos. Idos de 1969. Jane Fonda
era a musa do cinema. Acabava de estrelar Barbarella. O filme começa com ela,
flutuando em ambiente de gravidade zero, se despindo do traje de astronauta, restando quase desnuda. (VEJA AQUI)
O Campeonato
Goiano começava quente. Introduzi o termo “Goianão”, mania nossa de São
Paulo de colocar as coisas no
superlativo. Criei, também, Verdão/ Verdinho, Tigrão/Tigrinho and others. No noticiário dos clubes, adotei o uso dos hinos de cada um. O
Goiás não tinha o dele – só mais tarde, no início da era do Serra Dourada, é que
o presidente Iberê Monteiro o encomendou a Marcos e Paulo
Sérgio Valle, compositores de primeiro time nacional – são os autores da
maravilhosa “Viola Enluarada”.
Salve a Sant`Anna das Antas
A cidade de
Anápolis veio com tudo – eram os tempos de Paulo Choco, do Ipiranga, e de Nelson
Parrilla, do Galo (Anápolis). Parrilla que foi o artilheiro do campeonato em 65
e 66 – e lembremos que o Anápolis foi o campeão goiano de 1965. Completando a
força da Manchester na disputa, eis a rubra Anapolina, também chamada de “Xata” com “X”, mas nada a ver com
a embarcação homônima.
Soube, pelo
autor da denominação, que a tal nasceu da marca de tampa de vaso sanitário. A
Anapolina ia jogar em Ceres. Numa das paradas, usando o banheiro, Jamil Caixe,
que era diretor do time, gravou a curiosa marca do assento do vaso: Xacta. E saiu
de lá dizendo que a Rubra ia ser “Xacta”, aprontando contra o Ceres, lá no Vale
do São Patrício.
Se
materializou o vaticínio, não sei. Mas Xacta logo virou “Xata”, porque os
jornais começaram a escrever ”Chata” com “ch”, desvirtuando o cognome, e Jamil
mandou corrigir: “O nosso `Xata `é com x``”. Alegaram que estava errado, que
“Xata” era embarcação fluvial etc.. O beduíno, meu amigo, simplesmente respondeu:
“É Xata com x`. Até nisso ela é chata”.
Recuerdos de la Cataluña
Catalão/GO |
Mas a
sensação da época era o CRAC, de Catalão. Pedrinho Goulart, diretor de
futebol. Nelson Gama, o goleiro. Tinha tal de Toninho Índio (que foi o
artilheiro daquele ano, com 14 gols) e um centroavante chamado Cláudio, que só
não faziam chover.
Jogar na
Catalunha goiana era o mesmo que pegar touro a unha, como diz a marchinha de
Carnaval. Primeiro, porque o estádio era (e ainda é) uma arapuca. A galera em cima do campo
e em permanente ebulição. Aplausos para o CRAC, vaias para o adversário, elogios
à mãe do juiz e à mãe do comentarista que disse estar certa a marcação da
arbitragem. Na época, a cidade ainda tinha fama de Trezoitão.
Chatanooga Choo Choo
Lembro-me
da primeira vez que lá estive, em 69, para transmitir Vila Nova e CRAC. O
Draulas Vaz, chefe da Equipe 1.320
(hoje, 730) iria de carro no domingo, pela manhã, juntamente com o Jadir
Santos, ótimo narrador, irmão do Jurandir.
Fui no
sábado, de trem. Eu e o saudoso Nunes Macedo, da Rádio Brasil Central. Vivi em trens, em
São Paulo, quando os havia. Lá, a bitola era larga, o trem balançava menos. O
daqui, bitola estreita. No vagão restaurante, as mesas tinham locais para que copos e garrafas fossem
colocados, sem que derramassem ao sacolejar.
Para comer,
era uma ginástica só. Passamos a noite jogando baralho. Ninguém conseguia
dormir. Não havia vagão-dormitório, só o de poltronas-leito. Sei que saímos de
Goiânia por volta de nove da noite e chegamos a Catalão já na aurora dominical.
Trem de
ferro. Os carcamanos que administraram este país acabaram com ele. No Brasil
inteiro. Catalão tem, ainda, o patrimônio histórico dos velhos tempos: a sua
estação. E também as têm as demais cidades à margem da ferrovia.
Trens de
carga passam por ali. Já não mais existem gentes nas janelas dos vagões,
parecendo um desfilar de retratos de
pessoas, numa composição em que a vida
imita a arte. Já não há sorrisos em chegadas e nem lágrimas em despedidas. E
nem beijos fugazes. Os descalabros dos governos “mataram” as pessoas nos trens.
Mataram as nossas ferrovias. Alguém foi preso?
Tempinho bom
Voltemos ao
pé-na-bola. CRAC e Vila, Estádio Genervino
da Fonseca. Estávamos no dia 8 de março de 1969, um domingo. Placar final: 1 a
1. A coisa era por pontos corridos.
Voltaram a
jogar e a repetir o placar no dia 3 de agosto, no Estádio Olímpico. decidindo o
campeonato. 1 a 1. Vila Campeão. Somou 26 pontos, contra 25 do Leão do Sudeste.
A Anapolina ficou na lanterna.
Ano de
1969, 10 clubes disputavam o Goianão. E eu me fiz torcedor do Goiânia, que tinha Chico, Silvinho e Tuíra e foi o campeão de 1968. Nei Fernandes, depois comentarista com quem tive a satisfação de trabalhar, era o seu treinador.
Que saudade daquele tempo, quando Goiânia tinha 300 mil habitantes e ótima qualidade de vida. Quando era grande cidade e não esta cidade grande habitada mais por carros do que por pessoas.
Que saudade daquele tempo, quando Goiânia tinha 300 mil habitantes e ótima qualidade de vida. Quando era grande cidade e não esta cidade grande habitada mais por carros do que por pessoas.
P. S. - Assassinatos das ferrovias. Governantes que fazem isto só podem merecer cadeia, prisão perpétua.